sábado, 28 de março de 2009

Filme:Tempos Modernos de Charlie Chaplin.











Esse filme retrata um pouco do surgimento das maquinas e das Empresas.




No início do cinema haviam vários questionamentos sobre a legitimidade do cinema como arte. Muitos achavam que o cinema estaria sempre escravizado e relativizado ao teatro (antes, peças teatrais eram filmadas e exibidas, e mesmo quando depois não o fossem, a maioria dos autores ainda sim teatralizavam demais os filmes, não gerando um diferencial contundente que o pudesse diferencia-lo claramente do teatro). O cinema para ganhar esse status de arte própria teve de evoluir muito a ponto de "criar um novo modelo expressivo do real, a partir de elementos pertencentes aos próprios, e somente, mecanismos cinematográficos", de acordo resumidamente com umas das teorias que elevam o cinema a categoria de arte. E é exatamente isso que Chaplin fez, e de forma plena em “Tempos modernos”. Obra-prima. Defintivamente uma obra prima. Charles Chaplin criou várias obras máximas para o cinema, mas na minha opinião, “Tempos Modernos” é daqueles tipos de filmes que se envolvem bem com todas as possibilidades com que um filme pode ser envolvido. A temática, a direção, o roteiro, a trilha e todos os elementos para a criação de uma peça cinematográfica estão ali e em momentos de pura e perfeita conexão. Além de todas estas questões que são elementos do filme em si, ainda há a questão do contexto histórico no qual o filme foi realizado: era 1936,o cinema mudo já havia acabado faziam quase 10 anos ( o 1° filme falado foi "O cantor de Jazz" de 1927) e Chaplin se questionava e era questionado se seu personagem vagabundo iria continuar mudo. "Luzes da cidade" de 1931, outra grande obra do diretor , também foi mudo e fez grande sucesso, mas aquela altura não se sabia como as pessoas iriam receber novamente outro filme mudo do diretor. Carlitos é um personagem mestre em gags visuais e fazê-lo falar poderia destruir a magia do personagem. Ainda sim, mesmo contra tudo e todos, também devido a seu alto conceito perante hollywood, Chaplin não exitou em fazer, e pela última vez, um filme em que Carlitos continuaria mudo e pela última vez um próprio filme com o personagem Carlitos. Apesar disso, o filme tem algumas falas, mas esta é claramente uma menção ao surgimento de novas tecnologias, um dos temas no qual quase todo o filme se baseia. Não vou me prender a já tão comentada análise a qual o filme é uma crítica a novas formas de produção e especialização, que escraviza o operariado, uma crítica ao próprio conceito de modernidade industrial que surgia, que todo professor de história gosta de fazer após exibi-lo numa sala de aula (eu também passei por isso). Na época do filme, em que os EUA ainda sentia as dores da crise de 29 e que a 2° guerra estava por se anunciar, Chaplin recheou o filme de temas perigosos para a época, tanto devido a política estrangeira ( na Alemanha e na Itália foi obviamente proibido por acharem que o filme tinha apelos socialistas) quanto a política interna dos states que vivia a era do Macarthismo. Mas enfim, me prender um pouco a genialidade de Chaplin em tratar as imagens e em como ela se relaciona com a mensagem das cenas e do filme como um todo. Mas afinal, por que Chaplin é considerado um gênio? Porque ele sabe fazer como poucos no que no cinema mais se aclama: se manisfestar bem através das imagens. A inventividade em criar quadros e situações que são fantasticamentes explicadas somente pelas imagens é sua marca registrada. Quem não se lembra da antológica cena em que carlitos é confundido como líder de um movimento grevista após pegar uma bandeira que cai de um caminhão ? Ou quando ele é engolido pelas máquinas, demonstrando o total domínio das máquina sobre o homem ? Chaplin não usa das palavras, porque delas não as necessita. No único momento em que o personagem usa sua voz, na realidade ele não fala, mas canta. E canta num dialeto inexistente, talvez uma mistura de várias línguas. Nesta cena, o personagem tem que cantar para entreter o público, mas como por obra do destino ele perde a letra da música (outra momento hilário por sinal), Carlitos simplesmente canta qualquer coisa, mas para que o público entenda o que significa a canção, ele de novo faz o uso da mímica para retratar o que esta representa. De novo Chaplin exalta o poder da linguagem visual para poder se expressar e se comunicar. E de novo consegue nos presentear com uma cena memorável. As cenas de fábrica também são muito interessantes, muito bem recheadas de elementos que enriquecem o que a situação quer significar. Nos momentos em que Carlitos está plenamente condicionado a fazer o trabalho de enroscar parafusos, todo o fundo do quadro é sempre muito bem agitado, demonstrando o vigor de uma fábrica que não pára, assim como seu trabalho. Os imensos aparatos mecânicos, com suas enormes engrenagens são um show à parte, e Carlitos sempre nos concede uma relação de domínio destas sobre ele. Ou seja, nos filmes de Chaplin, além de um bom domínio das situações,que na maior parte das vezes se explicam por elas mesmas,também tem de haver um bom cenário, seja em sua simbologia e sua relação com o tema, seja na possibilidade de interação dos personagens com ele, ou seja através de ambos, que é o que mais ocorre no caso de “Tempos modernos”. Além de todas essas qualidades do filme ( a temática que transcende as épocas: essa questão do moderno X antigo e da relação do homem e da sociedade com esse conflito; a riqueza no trato da comunicação somente através das imagens; a estética que se envolve plenamente com o tema e com os próprios personagens em cena) a música é outro fator fundamental no filme. De autoria do próprio Chaplin, “Smile” se tornou um grande clássico mundial, possui regravações cantadas inclusive por vozes brasileiras. As músicas do filme como um todo modelam o ritmo da cena de forma extremamente coerente, mostrando que as imagens junto com suas composições e a música, formam uma riqueza dialética que tem por objetivo expressar ao máximo a mensagem, a proposta de cada cena. Essa questão da música já era muito bem utilizada obviamente em toda a história do cinema mudo, mas saber que Chaplin era o autor das músicas ( o IMD não me afirma se Chaplin era ou não o autor de todas as músicas de “Tempos modernos”, acredito que sim) do filme enriquecem sua autoria com relação a genialidade do filme. Enfim, muitos comentários acerca desse filme devem ser feitos, talvez eu escreva um pouco mais minha opinião sobre ele no futuro, mas o que deve ter prevalecido até aqui (espero eu) é toda a riqueza que existe no filme, seja no filme, nos temas ou no contexto no qual ele foi feito. “Tempos modernos” é daqueles filme que ultrapassam as épocas, sempre irá se falar dele, ele sempre será útil para se entender, mesmo que parcialmente, a evolução do cinema, e porque não, a evolução da própria história. E por isso é um obra que tem de ser vista e revista.
"Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação".Charles Chaplin

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